“O maior malandro é o que anda na Lei”

Há bastante tempo ouvi a frase título de um empresário, quando iniciava minha carreira profissional. Época em que era comum as empresas possuírem duas contabilidades, uma gerencial e outra fiscal. O tempo era de inflação alta e a “ciranda financeira” fazia que toda gestão empresarial se resumisse a fluxo de caixa, remarcação de preços, aplicações financeiras como o overnight (aplicação automática com capitalização diária), por exemplo. E mesmo assim a postura do gestor que pronunciou a frase era de ser ético em todas as ações de sua empresa.

Com o tempo, como advento da internet e da globalização, veio também à necessidade de novas posturas no âmbito empresarial. A concorrência antes localizada em uma próxima região geográfica agora não tinha mais fronteiras e novas maneiras de gerir foram necessárias para a sobrevivência das empresas. Neste novo cenário, ainda mais que antes, a frase ainda permanece atualizada. Muitas empresas simplesmente desapareceram do mercado ante das novas exigências. A eficiência da gestão empresarial está baseada na qualidade e temporalidade da informação que se pode obter. As práticas do passado, geravam dados que não representavam a realidade das empresas e, por conseguinte não podiam ser utilizadas como referência no processo de tomada de decisão.

Atualmente o governo tem tomado medidas que visam melhorar a eficiência fiscal, implantando o que no meio dos “sistemas de informação” é chamado de um verdadeiro “BIG BROTHER” empresarial, que a cada dia procura de forma mais on-line possível registrar todas as operações empresariais em um enorme banco de dados. As informações armazenadas neste banco de dados podem sofrer diversos tipos de cruzamentos, facilitando o processo de auditoria fiscal, tornando-o extremamente eficaz no combate aos possíveis desvios de conduta.

Além dos acionistas, hoje, as empresas precisam prestar contas com a sociedade, com o governo e com as instituições financeiras de forma clara e correta. Esta sendo criada, pelo governo, uma “central de balanços”, onde toda informação se torna pública. O SPED (Sistema Público de Escrituração Digital - www1.receita.fazenda.gov.br) é a ferramenta de obtenção dessas informações. Existe o contábil, o fiscal, o de PIS/COFINS o de produção, cada um com o seu grau de complexidade. Todos eles procurando detalhar as operações empresariais em seus pormenores, não deixando brechas para erros e nem suprimindo informações de cada processo.

A convergência contábil para as regras do IFRS (International Financial Reporting Standards - www.ifrs.org) forçam a cada dia maior qualificação das empresas em seus registros. A necessidade de rapidez em relação às variações financeiras e de mercado no processo de decisão faz com que a informação seja o bem mais valioso das empresas. O custo de uma informação errada não pode ser mensurável. Fazer tudo de forma correta é o único caminho para manter-se no mercado. A cada dia mais e mais empresas são forçadas a fechar suas portas por conta de não possuírem meios de analisar de forma eficiente e eficaz os seus processos gerenciais, por conta da falta de informação ou ainda da má qualidade destas.

Cabe às empresas buscarem, dentro da lei, as oportunidades que ela oferece tais como incentivos fiscais, que existem em todas as esferas, seja federal, estadual ou municipal. É necessário cobrar, de forma efetiva, em conjunto com as associações de classe e sindicatos, mudanças na legislação tributária. Cuidar do registro das informações com rapidez e exatidão. Buscar auxílio de especialistas financeiros e contábeis para orientar na correta formatação de controles e análise das informações. O apoio de ferramentas como um sistema de ERP (Entreprise Resource Planning), eficientes no controle operacional das empresas, já não são suficientes para a análise das informações. Hoje a utilização de ferramentas de analises como BI (bussines inteligence) são imprescindíveis para a alta administração. Planejamento estratégico, planejamento orçamentário, planejamento tributário, análise de indicadores contábeis, são práticas atualizadas de gestão empresarial.

Não podemos esquecer as pessoas, que devem estar em processo contínuo de aprendizado e evolução. Novos conceitos e ainda a aplicação de conceitos antigos, mas não ultrapassados, devem ser aplicados cotidianamente na melhoria das análises. Existem técnicas e ferramentas, que bem utilizadas, colocam as empresas e suas informações, de forma correta e tempestiva, não sendo necessário utilizar-se de estratégias não éticas. O tempo atual é de sermos corretos em todas as instâncias. Corrupção e ilegalidades não podem ter mais espaço em nossa forma de agir. Por isso é que concordo com a frase que “O maior malandro é o que anda na lei”.

Postado há 09 de Abril de 2020 por Marcelo Miranda